quinta-feira, 27 de março de 2008

Utopia?

A palavra popular vem carregada de um peso negativo muito forte. Um evento, uma festa e a cultura, para serem populares, ou seja, estarem ao alcance do povo, precisam custar barato ou não gerar custos. Isso resulta na falta de qualidade do produto, contribuindo ainda mais para a imagem negativa do “ser popular.”


O atual jornalismo popular acaba esbarrando nesse mesmo problema: falta de qualidade. E o pior é que no caso do Balanço Geral, da Record, e do Aqui Agora, do SBT, o problema não são os custos, mas sim a exploração da emoção, as imagens fortes, os depoimentos intensos, o sensacionalismo. Essa é a forma mais fácil e barata de conquistar audiência e, por conseqüência, patrocinadores.

Decidi nesse post expressar minha opinião invés de buscar entrevistas e teorias porque me incomoda que esses programas apresentem o que fazem como jornalismo. Princípios básicos como ouvir os diversos lados do fato, pesquisar e confirmar informações e ser ético foram esquecidos por alguns.

Um bom exemplo...

Em fevereiro, o programa Balanço Geral produziu uma matéria sobre a falta de uma passarela para os moradores da Vila Areia que fica ás margens da Free Way no km 94. O apresentador foi para a rodovia, levou junto aproximadamente seis moradores e ficaram atravessando de um lado para o outro a BR-290. Além disso, ficou questionando porque os veículos não paravam para as pessoas passarem, reclamou também da velocidade alta dos veículos e criticou a Concepa, concessionária que administradora da rodovia, por não tomar providências.

Por que expor as pessoas da vila ao risco de atravessar a rodovia várias vezes?A Free Way é uma estrada de alta velocidade, é permitido aos carros trafegarem a 100km/h, pessoas não devem atravessar por ali, até porque existe uma passarela de pedestres a um quilômetro dali.
Código de Ética do Jornalista, Art. 6º " É dever do jornalista não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha."


Como é possivel fazer jornalismo denunciando e reivindicando algo pra comunidade sem falar com quem pode responder os pedidos? Não houve pluralidade de fontes.
Denunciar sem pesquisar as informações e explorar a imagem humana sem responsabilidade. Isso é jornalismo popular? Ou melhor isso é jornalismo? Pra mim é uma forma ultrapassada e anti-ética de prender a pessoa na frente da TV. Em alguns estados está funcionando, em São Paulo e Santa Catarina o programa tem uma ótima audiência, já no RS, vamos aguardar e ver.

O jornalismo popular deve ser aquele que busca auxiliar o povo nas suas necessidades, a ponto de criar laços com a comunidade, mas sem explorar o sofrimento humano ou subestimar a inteligência do telespectador ou leitor. Sim, isso é possível!
Uma visão de um estudante que não conhece o mercado capitalista? Talvez, mas é a opinião de quem, mesmo gerando lucros, busca se reinventar e fazer a diferença.

2 comentários:

Anônimo disse...

É realmente muito triste que a televisão precise deste enfoque sensacionalista para atrair a atenção do telespectador. A questão também tem um lado cultural perturbador.
Como bem salientaste, cabe ao capitalismo papel preponderante na direção destes rumos, pois enquanto a tela não estiver se esvaindo em sangue, exibindo suas vergonhas ou se debulhando em lágrimas, dificilmente haverão patrocinadores interessados em divulgar seus produtos nos comerciais que mantém estes programas.
Infelizmente as emissoras vivem disto. É daí que vem o dinheiro para manter toda a estrutura, assalariar os profissionais e, dentre eles, os jornalistas como este que protagonizou esta lamentável reportagem. É deveras cruel a lógica do sistema econômico no qual estamos inseridos, pois até mesmo o enfoque da informação é condicionado pelo poder do capital.
Contudo, não se deixe levar. É preferível ser um idealista e poder lutar por aquilo que se acredita, na busca por uma informação de qualidade ao alcance de todos, do que ser mais um segurando um microfone, sem qualquer comprometimento ou respeito como o que faz e muito menos para quem faz, como vemos nestes incontáveis programas de tv, de onde veio este deplorável exemplo a que te referiste.
Todos necessitam sobreviver, até mesmo o jornalista.
Todavia, a sede de lucros infindáveis das emissoras deve vir limitada pela responsabilidade social. Senão, onde fica a dignidade humana?

::Pensamentos Efêmeros:: disse...

Nada mais popular que o Proteste Já, do CQC.
E um dos melhores exemplos de jornalismo que eu vi na TV nos últimos tempos.